Sempre ouvi que nunca devemos acreditar em dicas e que “se conselho fosse bom, não daria. Venderia!” Mesmo assim, gostaria de dividir algumas boas lições que aprendi, algumas com bons resultados e outras bem amargas.
No mercado há relativamente pouco tempo – iniciei em 2007, após um ano inteiro de estudos e simulações –, percebo em diversos chats que participo a fascinação que alguns ativos provocam nos traders, em especial nos iniciantes. Ações com preços em centavos – penny stocks –, opções e minicontratos de futuros são os alvos favoritos dessa fascinação. A possibilidade de ganhos extraordinários aplicando pequenas quantias, a alta volatilidade e a “adrenalina” que um trade provoca acabam funcionando como uma verdadeira armadilha para os incautos. Não é raro ler mensagens do tipo “sou iniciante e gostaria de fazer daytrade em dólar futuro”, por isso resolvi compartilhar o que o mercado já me ensinou nesse pouco tempo. Antes de prosseguir, é prudente deixar claro que tudo aqui não passa de impressão e opinião pessoais. Longe de querer ser dono da verdade, sempre digo que o mercado não está nem aí para as minhas opiniões, e que não existe certo e errado, mas quem está ganhando e quem está perdendo. E é só isso que importa.
Então, na minha humilíssima opinião, iniciar a vida de trader com daytrade em dólar ou índice futuros é o mesmo que acabar de tirar a carteira de motorista e querer pilotar carro de fórmula 1. Todo piloto começa pelo kart...
Operar ativos de tanta volatilidade já é complexo para traders experientes, que dirá para um iniciante! Exige, acima de tudo, uma capacidade extraordinária de analisar um gráfico em movimento constante e nada previsível – diga-se de passagem, o maior erro da maioria dos traders: querer adivinhar o futuro – e essa não é uma tarefa fácil. Relacionarei abaixo, uma sugestão de sequência de estudos para se chegar ao que considero ser um bom nível de análise, suficiente para a realização de bons trades.
1. Conheça o gráfico – é importante entender como um gráfico é desenhado, o que significa cada barrinha (ou candlestick) e quais informações fornece.
2. Conheça os padrões – topos e fundos são os pilares para o reconhecimento de tendências, suportes, resistências e pivôs.
3. Estabeleça métodos e critérios – há diversos métodos e critérios para a determinação de topos e fundos. Procure conhece-los e encontre os que melhor se adaptam ao seu modo de ver o mercado, ou até mesmo, os que te parecem mais simples.
4. Pratique muito – “o preço da perfeição é a prática constante” (Andrew Carnegie). Inicialmente, com o mercado fechado, comece com os tempos gráficos mais longos, como os diários, semanais e até mensais. Procure identificar os elementos básicos citados acima. Aos poucos, passe para os tempos gráficos mais curtos, como os de 60 e 30 minutos, até chegar aos de 15, 10, 5 e 1 minuto. Mas sente-se em cima das mãos para não cair na tentação de abrir uma posição precocemente, uma vez que é preciso estar conectado em tempo real com a corretora.
5. Conheça os principais setups – um setup é um conjunto de valores atribuídos a diversas variáveis que, quando atingidos, dão um sinal de entrada ou saída de uma operação. Há uma infinidade de setups e é de suma importância saber que nenhum deles é perfeito. Conheça suas principais lacunas antes de operá-los.
6. Pratique seu modus operandi – abrir e fechar uma operação, determinar pontos de ganho e de perda máxima exige que se conheça como preencher e enviar uma boleta. Operar gráficos rápidos exige que se tenha agilidade no preenchimento e envio das ordens e muitas vezes, o mercado se move com tamanha velocidade que não é possível fazer tudo ao mesmo tempo. As corretoras estão sempre oferecendo ferramentas cada vez mais sofisticadas que possibilitam o trader a abrir e fechar operações, além de modificar pontos de stop e ganhos diretamente no gráfico. Isso facilita muito, uma vez que não é preciso preencher e enviar boletas, mas apresenta um risco maior: na hora que o mercado se movimenta pra valer, é fácil cometer erros toscos que levam a prejuízos dolorosos. Para evitar esses equívocos, é importante que se pratique bastante em contas demo, onde é possível simular as operações sem que haja perdas. Obviamente que o sucesso numa operação não resultará em créditos em sua conta.
7. Aprenda a limitar perdas – aproveite o estágio nos simuladores para, desde cedo, desenvolver sua gestão de risco. Só há três comportamentos para os preços: subir, cair ou acumular (ficar de lado). Só é possível abrir posição em apenas uma dessas direções, o que implica impreterivelmente ter as outras duas contra você. Logo, a chance de tudo dar errado é duas vezes maior que a chances de acerta a operação. Se isso acontecer, o prejuízo não pode afetar seu patrimônio nem seu emocional. Para isso, é preciso que se abram operações onde as perdas estejam dentro de suas possibilidades financeiras e dentro do que você (e só você) considera confortável arriscar. Nunca arrisque mais do que aguenta perder. Estabeleça, desde cedo, limites diários, semanais e mensais de perda. Quando esses níveis forem alcançados, pare tudo. Não opere mais. Nem simule! Nessas horas, é importante saber parar e rever os erros, a fim de não cometê-los novamente.
8. Estabeleça metas – é aconselhável estipular uma meta diária compatível com o nível de risco. É claro que todos querem metas altíssimas de ganho, mas não adianta achar que irá ganhar rios de dinheiro apostando trocados. Se o nível de conforto nas perdas é baixo, os ganhos serão parcos também. Para ganhos maiores é preciso arriscar mais.
9. Aumente seu patrimônio – todo trader (ou investidor) deve ter como premissa o aumento de seu patrimônio e, para isso, é preciso não perder mais do que ganha. Denominaremos o valor máximo de perda mensal de Capital Alocado a Risco – CAR. É importante separar os lucros do CAR. Esses lucros servirão para a aquisição de ativos de valor, tais como ações de boas empresas, imóveis, cotas de Fundos Imobiliários (FII), moedas estrangeiras, ouro, além da formação de uma reserva de emergência. Se os lucros forem usados para repor o CAR, o patrimônio jamais crescerá. O resultado será um desastroso ZERO na conta, ao fim de um ano de trabalho.
10. Desenvolva-se como trader – é de suma importância que o trader mantenha-se atualizado, devendo estudar sempre, seja comprando livros e/ou fazendo cursos. Participar dos diversos chats de mercado é salutar, mas é preciso filtrar muito bem as informações compartilhadas, seja por moderadores ou por participantes. É normal que haja divergência de ideias e de formas de ver o mercado, mas o trader tem que estar convicto de suas posições. Não tem nada de errado em ouvir um analista chamar uma operação. O trader fará sua própria análise e avaliará, de acordo com a sua própria visão, se a recomendação vale a abertura da posição, obedecendo sempre os seus padrões e sua gestão de risco.
Agora que você já é um trader quase profissional, seguem algumas dicas e conselhos:
1. Não faça preço médio – esse é um erro muito comum e fatal. Traders costumam aumentar suas posições quando o mercado vai na contramão de sua aposta, na esperança de que, se voltar, o lucro será maior. Aumentar uma posição perdedora é, na maioria esmagadora das vezes, aumentar prejuízo. Não se iluda!
2. Saiba o seu tamanho dentro do mercado – jamais coloque ordens gigantescas no livro de ofertas, a fim de "blefar". Sempre haverá alguém maior do que você para bater suas ordens de venda ou enfiar suas ordens de compra.
3. Não opere notícias – notícias divulgadas em chats, revistas, jornais, noticiários de TV estão sempre atrasadas e não há como saber a veracidade nem quem está por trás da divulgação. Para operar notícias é preciso pagar grandes somas em dinheiro para que você as receba antes dos demais. Ainda assim, não há como saber como o mercado as interpretará.
4. Não opere o que não conhece – muita gente perde muito dinheiro por operar o que nem sabe do que se trata. Recentemente, uma grande casa de análise de mercado recomendou a compra de opções de VALE e o preço da ação não fez para cair. Quem conhece um mínimo sobre o mercado de opções viu, de cara, tratar-se de uma grande furada. Viu-se posteriormente que o maior vendedor foi a própria casa que recomendou compra.
5. Não siga dicas dos outros – o exemplo acima também ilustra perfeitamente essa recomendação. Faça suas próprias análises e tire suas próprias conclusões.
6. Não tente adivinhar o futuro – querer adivinhar topos e fundos é pedir para perder dinheiro. O mercado é regido por duas leis e não perdoa quem as desobedece: Lei Nº 1 – “Nada está tão caro que não possa subir mais”; Lei Nº 2 – “Nada está tão barato que não possa cair mais”. Por isso, não alimente expectativas, espere o mercado mostrar para onde está indo e opere a favor da tendência. Nadar contra a maré não é uma boa ideia. Não há nada de errado em um trade contra tendência, aproveitando um movimento de correção dos preços, desde que se tenha uma excelente gestão de risco.
7. Respeite o stop – stop só fere o ego, mas protege o bolso. Operação deu errado? Encerre logo. Não espere o prejuízo aumentar. Um pequeno prejuízo é perfeitamente administrável. Um grande prejuízo pode levar a duas situações: não operar por medo de perder mais ou querer vingar-se do mercado, abrindo posições cada vez mais arriscadas. Pressionado pelas perdas, é muito fácil cometer equívocos desastrosos.
8. Seja disciplinado – o mercado existe há mais de 100 anos e, provavelmente ainda estará aqui pelos próximos 100 anos. Portanto, não queira pegar “todas” as oportunidades num único dia. É preferível perder oportunidade do que perder dinheiro. Oportunidades haverá todos os dias.
9. Cuide de sua saúde – pouco ou nada adianta ser um trader vencedor se não se tem saúde para usufruir dos ganhos de seu trabalho. Lembre-se: sua saúde é seu maior patrimônio. Uma vez perdida, dificilmente recupera-se. Portanto, alimente-se de forma saudável, beba líquidos – água e sucos de frutas – e pratique alguma atividade física, nem que seja uma caminhada leve por dia.
10. Diversifique – há uma vida fora do mercado financeiro. Respeite os horários de trabalho e os fins de semana. Não fale só sobre mercado. Leia, vá ao cinema, viaje, namore, dê atenção a seus familiares e amigos. Amanhã, eles não estarão mais entre nós. Amanhã, nós não estaremos mais entre eles.